CORTINA DE FUMAÇA
Uma análise detalhada dos dados de fogo e desmatamento na Amazônia revela a intrínseca relação entre os dois fenômenos nos últimos dois anos
Reportagem: Letícia Klein e Thiago Medaglia
Fotos: Flavio Forner
Mapas: Laura Kurtzberg
ROLE PARA BAIXO
* Esta reportagem foi produzida com o apoio da Rainforest Journalism Fund, em parceria com o Pulitzer Center
A Amazônia não deveria pegar fogo. Úmida, a floresta mais biodiversa do planeta está repleta de árvores com troncos cobertos por liquens e musgos esponjosos, todos eles habituados à névoa matinal. Cada copa no dossel amazônico, por meio da evapotranspiração, bombeia centenas de litros de água por dia para a atmosfera – as maiores, milhares de litros –, consequência de uma combinação única, envolvendo a localização geográfica, a própria cobertura vegetal e os sistemas atmosféricos em atuação. Esta parte da América do Sul é provedora de chuvas para si e para outras regiões do Brasil e do continente, o que ajuda a entender o fato de suas mais de oito mil espécies de árvores conhecidas não possuírem as adaptações evolutivas de fogo encontradas em savanas e florestas boreais. Um ecossistema tão singular precisa de intervenção humana para incendiar. É o que tem acontecido.
De janeiro a dezembro de 2019, foram registrados 89 mil focos de calor na Amazônia, 30% a mais do que no ano anterior, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Já entre os meses de maio e julho de 2020, houve um aumento de 23% nos focos de queimadas em comparação ao mesmo período no ano passado – junho último apresentou os maiores índices para o mês em 13 anos.
O desmatamento também aumentou. Nem mesmo a pandemia ocasionada pelo novo coronavírus foi capaz de conter a pressão sobre a floresta. O sistema de alerta de desmatamento do INPE, o Deter, estima mais de 9 mil quilômetros quadrados desmatados entre agosto de 2019 e julho de 2020, número que representa uma alta de 34% em relação ao período anterior (agosto de 2018 a julho de 2019).
Primeiro desmata,
depois incendeia
Em Belterra, município no oeste do Pará conhecido pela produção de soja, uma grande área de floresta é desmatada e, após algumas semanas, queimada.
Combate ao fogo
dentro da mata
Brigadistas do ICMBio arriscam as próprias vidas ao entrar na Floresta Nacional do Tapajós à procura de focos de incêndio florestal.
A floresta morre
aos poucos
O que o fogo não destrói imediatamente, agoniza por muito tempo. Estudos estimam a morte lenta de até metade das árvores três anos após a ocorrência de um incêndio.
O fogo de pasto
pode escapar
Em Porto Velho, Rondônia, fogo intencional avança sobre uma área de pasto, colocando em risco a floresta ao redor.
Ambos os fenômenos – desmatamento e queimadas – não aconteceram de maneira dissociada na Amazônia nos últimos dois anos. “No processo do desmatamento, o fogo é a etapa final, transformando em cinzas a floresta que ali estava, já que não tem como colocar boi ou plantar grão com todas aquelas árvores caídas no chão”, explica a bióloga brasileira Erika Berenguer, pesquisadora nas Universidades de Oxford e Lancaster.
Além do fogo de desmatamento, os cientistas classificam o fogo na Amazônia em mais dois tipos principais: o fogo de manejo agropecuário é caracterizado por incêndios em áreas já desmatadas anteriormente e utilizadas para fins agrícolas, o que inclui a limpeza de grandes áreas de pastagens e, também, quando pequenos agricultores, povos indígenas e populações tradicionais usam o fogo na agricultura de subsistência. Todos esses tipos de fogo podem invadir a floresta em pé e originar os incêndios florestais. “O manejo do fogo na Amazônia exige a compreensão do que está queimando, quais fatores influenciam a extensão e disseminação dos incêndios, e como diferentes aspectos se combinam para tornar as florestas mais inflamáveis”, detalha Jos Barlow, pesquisador da Universidade de Lancaster com duas décadas de experiência na região amazônica.
Em florestas tropicais intocadas, ao contrário do propagado nas imagens que circulam pelas redes sociais, os incêndios não causam o impacto visual do fogo em florestas mais secas, como na Califórnia ou na Austrália, onde as chamas podem alcançar dezenas de metros de altura. Pelo contrário, na Amazônia, o incêndio florestal avança rasteiro, em torno de 200 a 300 metros por dia, queimando folhas secas e madeira caída. “As árvores têm quarenta metros de altura”, narra Erika Berenguer, “e quando uma floresta queima pela primeira vez, as chamas não costumam ultrapassar os 30 centímetros”.
Nada disso quer dizer que o resultado não seja devastador para a biodiversidade: “A falta de adaptação natural para lidar com incêndios florestais faz com que as espécies da floresta tropical sejam muito sensíveis. Mesmo um incêndio de baixa intensidade pode matar a metade das árvores”, esclarece o ecólogo Alexander Lees, da Universidade Metropolitana de Manchester. Estes são os efeitos imediatos, mas outros serão sentidos no longo prazo: “Enquanto árvores pequenas são mais suscetíveis em um primeiro momento”, afirma Lees, “as maiores costumam morrer nos anos seguintes”. Por fim, apesar de não avançarem com tanta rapidez, incêndios florestais são capazes de destruir milhares de quilômetros quadrados de floresta.
Por conta da intensa umidade, a floresta Amazônica sempre costumou oferecer resistência ao fogo. “Em um experimento no sul da Amazônia, até mesmo trilhas de formigas cortadeiras foram capazes de conter incêndios florestais”, relata Barlow. No entanto, essa capacidade tem sido quebrada por fatores como fragmentação, exploração madeireira, mudanças climáticas, eventos de seca extrema e outros, que deixam a floresta mais exposta a condições como altas temperaturas e estresse hídrico, sucumbindo aos poucos.
Mais suscetíveis, elas deixam de ser barreira para o fogo que escapa das queimadas em áreas recém-desmatadas ou com atividade agropecuária já estabelecida. Isso acontece especialmente por conta do efeito de borda causado pela fragmentação – na beirada da floresta, muitas espécies de árvores morrem e o ar é mais seco, o que favorece o avanço das chamas. Com incêndios mais difíceis de serem controlados, não somente a vegetação e os animais silvestres são atingidos, como também a infraestrutura rural, sobretudo em comunidades tradicionais que dependem da agricultura para se alimentar. Prejuízos de todo tipo são cada vez mais comuns e incluem cultivos, animais de criação, cercas e casas.
Para piorar, representantes do governo Bolsonaro têm repetidamente atribuído a responsabilidade pelos incêndios aos pequenos produtores rurais. Mas os dados não sustentam essa narrativa: segundo o Ipam, em 2019, dos 31% de focos de calor registrados em imóveis rurais, 22% estavam naqueles considerados médios ou grandes, enquanto 9% aconteceram em pequenos. Já no primeiro semestre de 2020, os imóveis de médio e grande portes registraram sozinhos a metade do número de focos de calor na Amazônia.
Extração ilegal
de madeira
Toras provenientes de desmatamento ilegal são apreendidas e armazenadas por fiscais do Ibama em um pátio na região do baixo Tapajós.
Árvores convertidas
em tábuas
Fiscais do Ibama localizam ponto de extração ilegal de madeira no interior da floresta, com toras já cortadas em forma de tábua para o transporte.
Caminhões carregados
cruzam a Amazônia
Caminhões com as caçambas cheias de árvores extraídas ilegalmente são apreendidos e encaminhados ao pátio gerenciado pelos órgãos de fiscalização.
O uso do fogo na agricultura tradicional
“O fogo está se tornando uma coisa perigosa, conta Pedro Pantoja, 69 anos, conhecido como seu Pedrinho. “Se tiver outro jeito para o pessoal fazer seu plantio sem queimadas, vai ser muito melhor”, explica o ribeirinho, um dos mais antigos moradores da comunidade de Jamaraquá, na Floresta Nacional do Tapajós, noroeste do Pará, onde cada produtor tem o seu pequeno roçado para plantar mandioca e uma data própria para queimar a área. “Em outubro ou novembro, mais perto da época de chuvas, o pessoal se organiza para a queima”.
A Flona do Tapajós é uma das unidades de conservação mais visitadas da Região Norte e uma das mais pesquisadas da Amazônia. O rio que empresta o nome à Flona é o protagonista de uma das maiores e mais belas bacias fluviais de toda a Amazônia e é conhecido pelas praias de areia branca – suas águas também banham o mundialmente famoso distrito de Alter do Chão, no qual pousadas com ar-condicionado e restaurantes de comida típica oferecem cardápios em inglês. Na Flona, onde vivem mais de quatro mil pessoas distribuídas por 23 comunidades e três aldeias indígenas, o turismo é mais rústico, e o rio Tapajós é o centro da vida comunitária.
Em Jamaraquá, uma das maiores comunidades da Flona, o turismo, ainda que incipiente, é uma das principais fontes de trabalho e renda para as 40 famílias que lá vivem, juntamente com o seringal e o cultivo de frutas. Cada família ainda tem um pequeno roçado para a mandioca em seu terreno, que é preparado com o uso do fogo – na ausência de métodos mecanizados, como o uso de tratores, os pequenos agricultores da Amazônia utilizam o fogo para a renovação do solo em seu sistema de alternância de cultivos. Da mandioca, vem a farinha para consumo próprio, e o excedente é vendido na feira de produtores familiares no município de Santarém. A mandioca – e, com ela, o fogo – faz parte da vida dos ribeirinhos há gerações.
Seu Pedrinho conta que os comunitários conhecem outras técnicas de plantio sem fogo, como o sistema agroflorestal e o uso de tratores para preparar o solo, mas dependem de ajuda e conhecimento externo. “Nós não temos suporte técnico. Se você quiser continuar a plantar mandioca, precisa limpar o mato”. O “mato” é a vegetação secundária, ou capoeira. Depois de colher a mandioca, o agricultor deixa o terreno descansar durante anos, enquanto cultiva a área ao lado. Nesse tempo, chamado de pousio, a vegetação daquele espaço se regenera e contribui com serviços ambientais, como manutenção da biodiversidade, filtragem da água e prevenção da erosão do solo. Quando chega o momento de reutilizar o terreno em descanso, seu Pedrinho corta a mata de capoeira e queima a biomassa para fertilizar a terra – as cinzas guardam nutrientes, como fósforo e potássio.
O hábito de consumo e as práticas de cultivo foram herdadas das populações originais. Ainda hoje, os indígenas da Amazônia repetem os métodos milenares usados por seus ancestrais. O fogo é um recurso primordial para o preparo da mandioca e de outros alimentos; faz parte da formação mitológica dos povos, estando presente em ritos de passagem e celebrações; e é usado na obtenção de materiais para moradia.
Do papel na formação da identidade cultural de diferentes povos ao uso como ferramenta de trabalho para a agricultura de subsistência, o fogo é indispensável no dia a dia das populações tradicionais. Mas o modo de vida secular na Amazônia rural começa a sentir de maneira mais direta os impactos da crise climática provocada, em primeira instância, pela parcela industrializada da humanidade. O clima mudou a tal ponto que a floresta, mais seca e inflamável, parece incompatível com os velhos hábitos. “Antigamente”, conta seu Pedrinho, “o trabalho na roça era das 7 horas da manhã até o meio dia, mas hoje se você for pro roçado às 10 horas já não suporta mais. É muito aquecimento”.
Os diferentes tipos de fogo na Amazônia
A classificação usada por cientistas para as queimadas na região ajuda a entender por que uma floresta tão úmida tem sofrido incêndios recorrentes
Ilustrações: Marcos de Lima e Alessandro Meiguins
Na roça, os pequenos produtores rurais têm suas técnicas para evitar que o fogo da agricultura de subsistência escape. Seu Pedrinho conta que a família e os vizinhos se reúnem para fazer o aceiro, como é chamado o processo de limpeza da vegetação em volta do terreno para impedir que mais material combustível esteja à disposição das chamas. Com até três metros de largura, e a uma distância de dez metros de distância da faixa de plantio, os comunitários tentam controlar o fogo de roçado e impedir que ele se transforme em incêndio florestal.
Eles também tomam outros cuidados, como acender o fogo nos períodos menos quentes do dia, contra o vento e da borda da área para dentro. “Quanto mais pessoas, melhor, porque elas ajudam a apagar”, explica. No passado, havia mais gente, mas hoje, por conta do êxodo de jovens que partem das comunidades no interior da Amazônia para buscar educação ou saúde nas zonas urbanas, há menos mãos disponíveis.
“Os comunitários têm uma percepção forte dos problemas que surgem com o aumento do escape do fogo, tanto os da Flona do Tapajós quanto os da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns”, conta Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental. A Resex Tapajós-Arapiuns, mencionada pela cientista, fica do outro lado do rio numa área de mais de seis mil quilômetros quadrados. Nas 75 comunidades, 13 mil pessoas vivem principalmente da agricultura de subsistência, da criação de pequenos animais e do extrativismo. Por causa das suas atividades econômicas, os moradores da Resex sentem bastante os impactos do fogo. Os incêndios diminuem a caça e os frutos para venda e consumo, além de destruir colmeias de abelha e produtos medicinais extraídos da floresta.
Outra mudança recente é o aumento de animais peçonhentos, como escorpiões e cobras, algo inédito na literatura, de acordo com Joice Ferreira. A pesquisadora coordena um projeto na Resex e na Flona centrado na dinâmica do fogo na agricultura familiar. Mais de 500 moradores das duas unidades de conservação já participaram das oficinas do projeto, inclusive seu Pedrinho.
Os encontros são feitos em uma comunidade de fácil acesso, e todas as outras são convidadas a participar. Por meio de conversas e dinâmicas, os pesquisadores buscam entender como os comunitários veem o fogo, quais os riscos inerentes e sua percepção dos mesmos, quais fatores aumentaram os incêndios ao longo do tempo e quais as alternativas possíveis. O projeto, desenvolvido por profissionais de 12 instituições de ensino e pesquisa nacionais e internacionais, incluindo órgãos federais, começou em abril de 2019 e vai até 2022. Em abril deste ano teria sido realizado um curso sobre biodiversidade, risco de fogo e mudanças climáticas para professores da região, mas, com a pandemia, o planejamento anual sofreu alterações.
A palafita
não alaga mais
As palafitas da casa de Pedro Pantoja, na Flona Tapajós, costumavam ficar embaixo d’água na estação chuvosa, uma realidade alterada pelo clima mais seco.
Alternativas
ao uso do fogo
A socióloga Angela Steward, da UFPA, com ribeirinhas na comunidade Jamaraquá, em projeto que busca tecnologias alternativas ao fogo na agricultura de subsistência.
Plantio na roça,
comida na mesa
Na cozinha simples da casa de madeira à beira do rio Tapajós é preparada a mandioca plantada com métodos tradicionais, que envolvem o uso do fogo.
Um futuro mais seco,
mais vulnerável
Criança na rede em Maripá, na Resex Tapajós-Arapiuns. O futuro incerto leva muitos jovens a deixarem o interior da Amazônia em busca da vida nas zonas urbanas.
“Os comunitários têm interesse em reduzir o fogo e têm vontade de entender melhor como funcionam os sistemas de agricultura sem queima e os sistemas agroflorestais, mas se veem aprisionados na situação em que estão”, explica Joice Ferreira. “Falar em proibir o fogo não é factível, porque a mudança das práticas depende de ferramentas que eles não têm”, complementa a pesquisadora.
Em locais da Amazônia onde pequenos produtores têm acesso a maquinários cedidos pelo poder público, o agricultor paga o aluguel por hora e o combustível, além de arcar com os custos do adubo em alguns casos. O fogo, por outro lado, é barato e fácil de adotar. “Do ponto de vista ambiental e de diminuição de risco, seria importante acabar com o fogo, mas quando você pensa que as práticas com fogo na agricultura são milenares, precisamos entender, junto com os produtores, como eles se adaptam a uma mudança de regime de clima”, afirma a cientista.
Um dos principais objetivos do projeto, chamado Sem Flama, é construir um sistema de alerta e previsão de incêndios, a partir dos dados coletados nos encontros. O sistema vai melhorar a visualização dos focos de fogo, evitar ou tornar a resposta aos incêndios mais rápida na Resex e na Flona. O sistema, sob a coordenação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), vai conter informações sobre a localização das comunidades na região, a densidade populacional de cada uma, onde há mais roçados e quais locais estão mais perto de estradas ou de áreas desmatadas. “A queda rápida de umidade vai alimentar o sistema e gerar alertas em determinadas regiões. Tanto o ICMBio quanto os comunitários terão acesso à informação e poderão responder rapidamente ao evento, com brigadistas externos e com pessoas da comunidade treinadas no combate a incêndios”, explica Joice.
A rota da degradação
Nas proximidades de Santarém, a BR-163 separa a Flona Tapajós de uma área recém-desmatada para a abertura de pasto.
O gado avança
sobre a floresta
A pecuária, uma das principais causas do desmatamento, pode gerar impactos negativos de longo prazo pelo uso do fogo na limpeza de pasto.
As cicatrizes
do fogo
A caminho da Terra Indígena Uru-eu-wau-wau, em Rondônia, onde vivem tribos isoladas, as marcas de um incêndio fora de controle em uma fazenda de gado.
Impactos de outros fogos
Por causa da especulação imobiliária, nem sempre as áreas desmatadas são prontamente eliminadas com fogo: grande parte delas é tomada de forma ilegal por grileiros, que derrubam as árvores com a intenção de adquirir e legalizar a terra após a anistia do governo. “Apesar de nem todo foco de calor estar associado ao processo de desmatamento”, diz Liana Anderson, pesquisadora do Cemaden, “uma área desmatada seguramente vai queimar em algum momento, pois essa é a ferramenta usada para eliminar a biomassa”.
Uma forma eficaz de combater o fogo, portanto, seria reduzir drasticamente o desmatamento. “Se não há fonte de ignição, não tem como o fogo escapar para a floresta em pé”, explica Erika Berenguer. Segundo relatório do MapBiomas (Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo do Brasil, desenvolvido por uma rede de especialistas), 99% do desmatamento feito no Brasil no ano passado foi ilegal, ou seja, sem autorização prévia por parte dos órgãos ambientais competentes, sejam as secretarias municipais ou estaduais, ou as agências federais, como o Ibama.
Para combater o desmatamento e a ilegalidade, é preciso investimento do governo federal em fiscalização, equipe técnica, pesquisa e desenvolvimento de tecnologia. Sistemas que consigam diferenciar os tipos de fogo em tempo real podem orientar a criação de novas políticas. “Precisamos saber onde está o fogo, o que está queimando, quem são os atores envolvidos, quais governos municipais e estaduais precisam estar engajados. Assim é possível criar incentivos e mecanismos de comando e controle para evitar essa mesma situação no futuro”, elenca Paulo Brando, pesquisador do Ipam.
“É da terra e do rio que tiramos o sustento. Se você acabar com a floresta e queimar, o que vai fazer depois? Não vai ter fruta, não vai ter caça, não vai ter mais floresta”, fala seu Pedrinho. Sua sabedoria elementar, talhada em roça e rio, em nada destoa das cobranças vindas do mercado global ao Brasil. Em junho último, gerentes de fundos de investimento estrangeiros, avaliados em 4 trilhões de dólares, cobraram do governo Bolsonaro o fim do desmatamento, e o Parlamento holandês rejeitou o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia pelo mesmo motivo. Tal qual fogo e desmatamento na Amazônia, o futuro da floresta mais biodiversa do planeta e o da humanidade estão atrelados. Esta realidade, não há cortina de fumaça capaz de esconder.